“À medida que as horas de trabalho aumentam, o bem-estar das pessoas reduz”
Investigadores da UC sugerem horários mais curtos para determinadas pessoas
2012-05-29
Por Susana Lage
O número de horas de trabalho tem efeitos no bem-estar das pessoas, conclui um estudo realizado por Filipe Coelho e Maria da Conceição Pereira, da Faculdade Economia da Universidade de Coimbra (FEUC).
“À medida que as horas de trabalho aumentam, o bem-estar das pessoas reduz”, afirma Filipe Coelho ao Ciência Hoje. No entanto, esta relação negativa não é igual para todas as pessoas. Ela é, por exemplo, “mais forte para as mulheres”.
Uma explicação possível, de acordo com o investigador, é que as mulheres têm de conciliar o trabalho pago com outro turno de trabalho em casa. E se as horas na empresa aumentam isso significa que as mulheres vão ter mais dificuldades em resolver o seu turno doméstico.
“Isto corresponde a um eufemismo que por ventura estará em desaparecimento mas que ainda terá as suas marcas”, sublinha Filipe Coelho.
Outro resultado que os investigadores encontraram vem juntar a política a esta ‘equação’. “É que as pessoas de esquerda sofrem mais em termos de bem-estar à medida que aumentam as horas de trabalho do que as pessoas de direita”.
Segundo Filipe Coelho isto é explicado porque às ideologias de esquerda e direita estão associadas diferentes formas de ver o mundo, de entender a vida privada das pessoas e o trabalho.
“À direita associamos o individualismo, o capitalismo, o reconhecimento e prémio pelo esforço individual, enquanto à esquerda associamos aspectos como a igualdade, justiça social, o reforço dos direitos dos trabalhadores e não podemos esquecer que foram os sindicatos ligados à ideologia de esquerda que de alguma forma nos trouxeram conquistas como a semana de trabalho de 40 horas”, exemplifica.
O que aqui eventualmente estará a acontecer, conclui o estudo, é que as pessoas que são de esquerda sentem que ao trabalharem mais horas estão a prejudicar a sua vida pessoal para beneficiar os lucros do patrão.
A investigação de Filipe Coelho e Maria da Conceição Pereira baseou-se na informação recolhida junto de 33 mil empregados de ambos os sexos e de várias idades, 1 034 dos quais portugueses, no âmbito de um estudo europeu, financiado em parte pela União Europeia, e conduzido em 24 países.
O trabalho não tem consequências imediatas mas é algo que pode ter efeito nas práticas das empresas. Estas podem, por exemplo, alterar os horários de trabalho de forma a atender às especificidades das pessoas.
"Verificámos que, por exemplo, os idosos, as mulheres, as pessoas que têm crianças em casa, as que têm problemas de saúde, sofrem mais com o aumento do número de horas de trabalho”. Assim, “para as empresas evitarem prejudicar o bem-estar das pessoas poderiam talvez fazer horários de trabalho mais curtos para as pessoas com estas características”, sugere Filipe Coelho.
Os próximos passos na investigação vão passar por analisar relação entre as horas de trabalho e o bem-estar por país. “O estudo que fizemos referiu-se à globalidade de países e a ideia agora seria ver até que ponto é que há diferenças” entre nações.
Outra possibilidade é investigar como é que as horas de trabalho influenciam o bem-estar das pessoas em diferentes ocupações.
Publicado por Ciência Hoje
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